Nas últimas semanas, mais de 200 incêndios florestais devastaram vastas extensões de terra no Canadá, particularmente nas províncias de Manitoba e Saskatchewan. Segundo dados oficiais, os incêndios queimaram mais de 19.900 quilômetros quadrados, uma área equivalente à metade do tamanho da Suíça. As chamas forçaram a evacuação de mais de 33.000 pessoas, danificaram a infraestrutura e geraram uma crise de saúde pública em regiões como Alberta, onde a qualidade do ar atingiu níveis perigosos até mesmo em ambientes fechados.
O fumo denso gerado por estes incêndios não só cobriu vastas áreas do Canadá e dos Estados Unidos, como também foi transportado pelas correntes atmosféricas para a Europa, como indicado Euro News. A partir de 1º de junho, o Servicio de Monitoreo de la Atmósfera de Copernicus (CAMS) concentrações significativas de aerossóis foram detectadas na Irlanda, Reino Unido, França, Alemanha e até na Grécia. Embora sejam encontrados principalmente nas camadas superiores da atmosfera, o fenômeno causou pores do sol alaranjados e céus nublados em várias cidades europeias.
Intense wildfires have scorched parts of Alberta, Manitoba & Saskatchewan since May 2025, forcing evacuations & blanketing vast areas in smoke.
— Copernicus EU (@CopernicusEU) June 5, 2025
️ This #CopernicusEU #Sentinel3 #ImageOfTheDay from 4 June shows smoke drifting over Nunavut & Hudson Bay. pic.twitter.com/hEFopX2YqI
Mark Parrington, cientista sênior do CAMS, alertou que esse tipo de transporte transatlântico não apenas demonstra a magnitude dos incêndios, mas também a crescente interconexão dos fenômenos climáticos. "A fumaça do Canadá agora está em nossos céus. É um sinal de alerta: o que está acontecendo em uma floresta do outro lado do mundo não é mais um problema distante", disse ele. Este episódio lembra os incêndios de 2023 no Canadá, que escureceram o céu de Nova York por dias.
Incêndios florestais não são um fenômeno novo no Canadá, mas sua frequência, duração e intensidade são. Especialistas do Ministério de Recursos Naturais do país afirmam que as temporadas de incêndios estão começando mais cedo, terminando mais tarde e sendo muito mais destrutivas. O padrão se tornou tão previsível que alguns cientistas o descrevem como um "novo normal", impulsionado por temperaturas recordes e uma prolongada falta de chuva.
#Wildfire smoke may be carried thousands of kilometres from the fire zone.
— Worldview Darth Data (@WED_explorer) May 20, 2025
In recent days, smoke from #Canada's #wildfires has been transported across the North Atlantic to reach #Europe, resulting in hazy skies.️
@eumetsat
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Em relação às causas, aproximadamente metade dos incêndios no Canadá são causados por raios, especialmente em regiões remotas e de difícil o. No entanto, em áreas mais populosas, as atividades humanas estão por trás da maioria dos surtos. De pontas de cigarro mal apagadas a veículos que aquecem a vegetação, a lista de gatilhos é longa. Além disso, a expansão urbana para áreas florestais aumenta a vulnerabilidade da população e dificulta os esforços de contenção.
As mudanças climáticas atuam como um multiplicador de riscos. O Canadá está se aquecendo a uma taxa duas vezes maior que a média global, resultando em solos mais secos, menos umidade no ar e maior disponibilidade de biomassa inflamável. Essa combinação cria um ambiente propício a incêndios de grande porte, que são mais difíceis de extinguir, se espalham rapidamente e têm impactos devastadores no ecossistema, na saúde humana e na economia.
As consequências desses incêndios transcendem fronteiras. A fumaça não afeta apenas a visibilidade e a qualidade do ar localmente, mas pode viajar milhares de quilômetros, como visto neste caso. Esses aerossóis contêm partículas finas que, mesmo em grandes altitudes, podem modificar a formação de nuvens, alterar os padrões climáticos e contribuir para o aquecimento global ao absorver a radiação solar.
Area burned by wildfires in Canada in 2025 has already SURED the average we typically see in an entire year.
— Kyle Brittain (@BadWeatherKyle) June 5, 2025
We average about 2.1 million hectares per year, but have already eclipsed 2.6 million hectares.
And it's only early June. pic.twitter.com/TXVbvmfuqZ
Em termos de emissões, 2023 foi o pior ano já registrado: incêndios florestais no Canadá liberaram mais de 327 megatons de carbono na atmosfera, 23% do total global de incêndios. Esse ciclo se retroalimenta: mais incêndios geram mais gases de efeito estufa, o que intensifica as mudanças climáticas e, por sua vez, cria condições mais favoráveis para novos incêndios. Um ciclo vicioso que precisa ser quebrado urgentemente.
A resposta deve ser global e multidimensional: fortalecer os sistemas de prevenção, investir em tecnologia de monitoramento por satélite, aprimorar o manejo florestal e, claro, reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Sem uma ação decisiva, o que hoje parece uma anomalia atmosférica pode se tornar uma constante sazonal, com impactos cada vez mais severos em todo o planeta.